terça-feira, 29 de novembro de 2016

CAMINHOS PERCORRIDOS PELOS ALEMÃES DA RÚSSIA.

 LIVRO: CAMINHOS PERCORRIDOS PELOS ALEMÃES DA RÚSSIA.
Na Colônia Guarani / Santa Rosa - RS - Brasil.

Obs.: Edison Vitor Franco, participou do projeto com o artigo TURISMO RURAL, publicado nas paginas 136 a 150 do referido livro, publicado na integra 
abaixo.

TURISMO RURAL

TURISMO RURAL
 Bel. Edison Vitor Franco*
 RESUMO
 O interesse pelo turismo rural, associado à expansão da oferta de turismo no Brasil possui aspectos que assinalam para uma popularização do turismo rural e sua exposição nos mais diversos meios de comunicação. Consequentemente, a utilização do termo turismo rural vem se expandindo, de modo que é comum a utilização eventual e, por vezes, seu conceito é confundido, por esta razão apresentam-se neste artigo, conceitos de turismo no espaço rural, turismo rural e agroturismo. Baseado em estudos e interpretações de pesquisadores do relevante tema busca-se o turismo no espaço rural uma relação aos conceitos trabalhados, com resultados viáveis para a região noroeste do RS. 
Palavras-chave: turismo rural, agroturismo, resultados.  



*Edison Vitor Franco Bacharel em Administração com Habilitação em Comércio Internacional. CRA/RS.  Nº 33.886.
Turismólogo, com registro na ABBTUR nº. 15.383/RS.
Instrutor de Cursos e Guia de Turismo Regional e de Excursão Nacional, registrado no Cadastur Mtur nº 23. 010204.96-0.

INTRODUÇÃO
 As pesquisas e estudos pautados ao turismo no espaço rural são compreensíveis no Brasil e, em vários países, principalmente, a partir da década de 1990. Assim, o crescimento do turismo no espaço rural está profundamente ligado ao aumento da oferta turística rural, assim como, uma maior procura da sociedade por atrativos e empreendimentos relacionados ao bem-estar no campo.
A Organização Mundial do Turismo (OMT) apresenta ações governamentais de apoio e regulamentação do turismo, assim como, provoca debates sobre a viabilidade de abertura das propriedades rurais com a finalidade de oferecer atividades de turismo com a possibilidade de oferecer atrativos naturais, históricos, culturais e até gastronômicos.
Apesar de ter um crescimento concentrado na Europa e nos Estados Unidos, a partir da década de 1960, o turismo ganha força na discussão sobre desenvolvimento rural em vários países no início da década de 1990, período em que cresce o fenômeno da pluriatividade no espaço rural; a concepção de multifuncionalidade do agricultor e da agricultura; bem como, o interesse dos agentes turísticos e da população urbana pelo rural e pelas ruralidades. 
Sabendo da relevância do turismo rural como fenômeno de transformação do espaço geográfico, discutem-se os conceitos de turismo no espaço rural, turismo rural e agroturismo.

1) ELEMENTOS HISTÓRICOS DO TURISMO NO ESPAÇO RURAL
 O crescimento global da oferta turística vem intensificando a diversificação das modalidades turísticas, chamada de segmentação, e, por conseguinte, a busca/criação de novas destinações e de novos produtos turísticos nas últimas décadas. 
Com a saturação das destinações turísticas “convencionais” (modelo sol e praia), da segmentação dos setores do mercado com o regime de acumulação flexível do capital, a partir da década de 1990, o turismo passa a ser, ideologicamente, polarizado entre turismo convencional/de massa e turismo alternativo/sustentável.
Entre as “modalidades” turísticas consideradas alternativas, destacam-se o ecoturismo e o turismo rural, pois ambos pressupõem, teoricamente, que haja uma valorização dos espaços “naturais” e ruralizados. Essa valorização conduziria a um aproveitamento dos recursos naturais, dos objetos técnicos já instalados, e do saber-fazer local. Além disso, o turismo rural tenderia a ser um turismo mais simples, individualizado, de base local, e, portanto, não levaria a grandes mudanças na configuração da paisagem rural. 
Em virtude do desenvolvimento econômico pautado na industrialização e das conquistas trabalhistas nos países europeus - como as férias, redução da jornada de trabalho e décimo terceiro salário - ambos ocorridos, a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, o turismo rural se expande na Europa, passando a ser uma atividade economicamente promissora e incentivada em países como França, Espanha e Itália. 
Além dos incentivos públicos para a expansão do turismo como setor econômico estratégico e da organização do trade turístico para viabilizar o turismo rural, o interesse dos citadinos pelo espaço rural, seja para visitas esporádicas ou para moradia, contribuiu para a afirmação do turismo rural.
O processo de retorno ao campo é denominado neo-ruralismo, iniciado na década de 1970, na França e em outros países europeus. Segundo Giuliani (1990), o neo-ruralismo expressa à ideia de que, uma série de valores típicos do velho mundo rural passa por um revigoramento e começa a ganhar a adesão de pessoas da cidade.
Presvelou (2000) lembra que as visitas ao campo já eram comuns, sobretudo, para rever parentes e amigos e para o descanso. Todavia, a novidade no interesse pelo rural encontra-se no deslocamento de pessoas na qualidade de turista para o espaço rural.
Durante a década de 1980, há um incremento do turismo no espaço rural europeu, que passa a ser visto como alternativa de renda em função de problemas estruturais nas propriedades rurais, como os baixos preços dos produtos agrários e a redução do protecionismo (TULIK, 2003). 
Para Baidal (2000), as possibilidades do turismo rural/natural constituem um aparato para reativação de áreas industriais com problemas, dinamização de áreas rurais atrasadas e diversificação da estrutura econômica regional.
A partir da experiência europeia da década de 1990 em incentivar o turismo como uma atividade econômica viável para o meio rural, a qual valoriza o ambiente e a cultura local, o turismo no espaço rural passou a ser considerada uma alternativa de emprego, renda e de desenvolvimento para o rural em todo o mundo.
No Brasil, o interesse pela expansão do turismo rural por parte do Poder Público também vem crescendo significativamente a partir da década de 1990, assim como a agricultura familiar que passa a ofertar produtos turísticos no espaço rural.
Além das dificuldades econômicas dos agricultores e da agricultura em todo o mundo, o apelo ambiental de usos menos degradadores dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável, popularizado no início da década de 1990, contribuíram para a consolidação da ideologia do turismo rural (do ecoturismo e de outras modalidades) como atividades potencialmente promotoras do desenvolvimento sustentável. O interesse da sociedade urbana pelo ambiente e pela cultura rural também se apresenta como um dos grandes argumentos para o crescimento do turismo rural, e, consequentemente, para a revitalização do espaço rural.  Autor renomado da área do turismo, também vê o turismo rural como algo específico do modo de vida rural, classificando-o como o conjunto de atividades que compõem a vida no campo, envolvendo a experiência do dia a dia nas fazendas, o convívio com camponeses, a montaria de cavalos, as plantações, as pastagens, o sabor dos alimentos degustados diretamente da fonte.
Zarga (2001 apud Bricalli, 2005, p. 43) afirma que o turismo rural é “uma atividade que se realiza no mundo rural, composta por uma oferta integrada de ócio dirigida a pessoas interessadas pelo entorno autóctone, pelas atividades rurais e que tenham uma inter-relação com a sociedade local.” 
O turismo no meio rural consiste em atividades de lazer realizadas no meio rural e abrange várias modalidades definidas com base em seus elementos de oferta: turismo rural, turismo ecológico ou ecoturismo, turismo de aventura, turismo cultural, turismo de negócios, turismo jovem, turismo social, turismo de saúde e turismo esportivo. 
Quando se fala em turismo no meio rural, estão incluídas, portanto, todas as modalidades turísticas praticadas nesse espaço, independentemente da motivação e das atividades envolvidas. Assim como, o termo turismo no meio rural, outros autores preferem utilizar o termo turismo no espaço rural ou turismo em áreas rurais. Torna-se interessante nesse debate quando se fala em turismo no espaço rural, o componente espacial é preponderante em relação às atividades desenvolvidas, de modo que qualquer atividade turística desenvolvida em um espaço que não seja urbano faz parte do turismo no espaço rural, mas não necessariamente corresponda a uma atividade de turismo rural.
Beni (2002, p. 31) conceitua o turismo rural como o “deslocamento de pessoas para espaços rurais, em roteiros programados ou espontâneos, com ou sem pernoite, para fruição dos cenários e instalações rurícolas”. O pesquisador brasileiro aplica o mesmo conceito de turismo ao rural, porém destaca a paisagem e os equipamentos rurais como principais motivadores das viagens.
Rubelo; Luchiari (2005 p. 214), também apresentam um conceito de turismo rural próprio e bastante abrangente, entendendo-o como: [...] a somatória de possibilidades que permite ao turista conhecer as práticas sociais das famílias rurais, a cultura rural, o contato com as atividades do campo, com a natureza, com a herança material, expressa ainda nos objetos utilizados para desenvolver as atividades de produção agrícola, e o saber local.
Novaes (2004) apresenta a definição de turismo rural da Organização Mundial do Turismo (OMT), que também destaca o turismo como atividade complementar e integrada à agropecuária. 
O Turismo Rural refere-se a lugares em funcionamento (fazendas ou plantações) que complementam seus rendimentos com algumas atividades turísticas, oferecendo geralmente alojamento, refeições e oportunidades de adquirir conhecimentos sobre as atividades agrícolas.
Desta forma, ao considerar as referências dos autores citados, o turismo rural está, necessariamente, vinculado às características do meio rural (produção agrícola e/ou pecuária, paisagens rurais com vegetação nativa e secundária, arquitetura rural, o contato direto com o modo de vida dos habitantes do campo e com os animais, a culinária da “roça”, entre outras).
Devido ao amplo debate sobre a conceituação do turismo rural, a EMBRATUR (Empresa Brasileira de Turismo) também teve dificuldades em estabelecer um marco conceitual oficial para o turismo rural brasileiro. Tulik (2003) afirma que, em 1994, a EMBRATUR adotou o turismo rural como um conceito múltiplo e, de certa forma, confuso, pois abrangeria o turismo diferente, de interior, doméstico, integrado, endógeno, alternativo, agroturismo e turismo verde. O principal objetivo do turismo rural no Brasil seria gerar emprego e renda com vistas ao desenvolvimento local.
Entretanto, Tulik (2003, p. 74) afirma que, em 2002, houve uma mudança no conceito de turismo rural da EMBRATUR, que passou a ser considerado “um segmento do turismo que proporciona conhecer, vivenciar e usufruir as práticas sociais, econômicas e culturais próprias do meio rural de cada região de forma sustentável”. Mesmo com a mudança conceitual, o turismo rural manteve-se vinculado às práticas rurais, e não somente ao espaço rural, mostrando que a existência ou manutenção das atividades agropecuárias são elementos essenciais para caracterizar o turismo rural. No entanto, este conceito passa a fazer referência à sustentabilidade no turismo, demonstrando a força da ideologia do turismo sustentável. Em 2004, o conceito de Turismo no Espaço Rural também passa a ser adotado pelo governo federal. Em documento do Programa Nacional de Turismo Rural na Agricultura Familiar, o turismo no espaço rural abrangeria todos “os equipamentos localizados na área rural que desenvolvem atividades de lazer, recreação, esportivas, de eventos, não apresentando, basicamente, vínculo com a produção agropecuária e a cultura rural”. (BRASIL, 2004, p. 7).
De forma geral, o agroturismo apresenta todos os atributos do turismo rural, sobretudo, pelo fato de ser uma atividade realizada no espaço rural, ocorre, porém, que o diferencial do agroturismo em relação ao turismo rural diz respeito à participação direta e/ou indireta do turista em atividades comuns dos agricultores, como plantio, colheita, ordenha, entre outras. Nesse sentido, toda a oferta de agroturismo poderia ser classificada como turismo rural, porém, nem toda a oferta de turismo rural pressupõe a existência do agroturismo. 
Beni (2002, p. 32) apresenta o conceito de agroturismo: “[...] deslocamento de pessoas para espaços rurais, em roteiros programados ou espontâneos, com ou sem pernoite, para fruição dos cenários e observação, vivência e participação em atividades agropastoris.” Comparando os conceitos atribuídos por Beni de turismo rural e de agroturismo, a única inserção feita para o agroturismo diz respeito à vivência e participação dos turistas em atividades agropastoris. Afirma ainda que dois aspectos distinguem o agroturismo do turismo rural, são eles:
1. A produção agropastoril é a maior fonte de renda da propriedade de agroturismo, de modo que o turismo gera uma receita complementar; 
2. As próprias atividades agropastoris constituem o principal diferencial turístico, de modo que o turista pode participar ou não da rotina da propriedade.
No que tange à ideia do turismo como fonte de renda complementar às atividades agrícolas, os conceitos de turismo rural da OMT e da EMBRATUR também apontam para esse princípio. Apesar de ambas as instituições não apresentarem um conceito específico de agroturismo – dando a impressão de entenderem este como sinônimo de turismo rural – elas consideram que a complementaridade com as atividades agropecuárias deva fazer parte do turismo rural.  
Mesmo em empreendimentos turísticos rurais altamente técnicos, como um haras, uma fazenda experimental ou um pesque-pague, algum tipo de atividade agropecuária é mantido. Assim, afirma-se que a complementaridade com atividades agropecuárias deve fazer parte de qualquer oferta de turismo rural, mas tais atividades podem ser ou não os principais atrativos do turismo rural.
Logo, no agroturismo, as atividades agropecuárias, além de antecederem o turismo, são os grandes atrativos turísticos. Para Bricalli (2005), o agroturismo está intimamente relacionado às atividades agropecuárias da propriedade, e aquelas que ofertam essa modalidade costumam ser pequenas (até 50 ha) e de estrutura familiar. Não obstante, concordamos com Beni (2002), que no agroturismo deva haver complementaridade com as atividades agropecuárias, pois, além de estas se constituírem nos principais atrativos do agroturismo (seja através do contato com plantações e animais, da oferta de refeições, ou da compra e consumo de produtos alimentares in natura ou processados), geralmente, garantem a sobrevivência dos agricultores e de suas famílias, principalmente, nos períodos de pouca visitação. 
Silva; Vilarino; Dale (2000) utilizam o conceito de agroturismo como sinônimo de turismo rural, fato que se considera questionável, pois se considera que o agroturismo tem mais especificidades que o turismo rural. Os autores ponderam que o agroturismo seria uma estratégia de diversificação produtiva das propriedades rurais, através de atividades internas à propriedade e ao modo de vida rural, que geram ocupações complementares às atividades agrícolas. Como exemplos, citam a fazenda-hotel, o pesque-pague, a fazenda de caça, a pousada, o restaurante típico, as vendas diretas do produtor, o artesanato, a valorização da paisagem, e a industrialização caseira.
Novaes (2004) procura estabelecer um debate em torno da conceituação sobre o turismo rural, porém não avança muito, pois diferencia turismo no espaço rural de turismo rural, mas, assim como Silva; Vilarino; Dale (2000) veem o turismo rural e o agroturismo como sinônimos.
Verbole (2002) ressalta o envolvimento dos proprietários dos empreendimentos em atividades agropecuárias, mas não vincula o agroturismo à participação do turista em tais atividades. Para o autor, os empreendedores do agroturismo devem ser agricultores. Como Verbole é europeu e chama de turismo rural qualquer atividade turística realizada no espaço rural, seu conceito de agroturismo parece ser similar ao conceito de turismo rural utilizado no Brasil e oficializado pela EMBRATUR, pois o autor destaca a existência de alguma atividade agropecuária como elemento definidor do agroturismo. 
Ao usar o termo turismo rural como sinônimo de turismo no espaço rural, Baidal (2000) apresenta uma definição de agroturismo distinta da de Verbole (2002), pois considera a participação do turista em atividades agropecuárias, e acrescenta a oferta de pernoite na propriedade rural como uma exigência básica para se afirmar a existência do agroturismo. No entanto, para Baidal (2000), o agroturismo:
[...] se fundamenta no desfrute de experiências ligadas a uma exploração agrícola ou pecuária.  É o próprio agricultor quem aloja o turista (em sua própria residência ou em edificações já existentes adaptadas para pernoites), e este participa das tarefas agrícolas ou pecuárias, ativamente ou como expectador.
Na tentativa de estabelecer um conceito adaptado à realidade brasileira, os autores veem o agroturismo relacionado à:
Atividades internas à propriedade, que geram ocupações complementares do cotidiano da propriedade, em menor ou maior intensidade, sendo parte de um processo de agregação de serviços aos produtos agrícolas e bens não materiais existentes nas propriedades rurais (paisagem, ar puro, etc.), a partir do "tempo livre" das famílias agrícolas, com eventuais contratações de mão de obra externa. (CAMPANHOLA; SILVA, 2000, p. 148). 
No entanto, a ênfase dada às famílias agrícolas como receptoras do agroturismo abre uma nova frente de debate, vinculada à viabilidade e às consequências da inserção de agricultores familiares na oferta do turismo rural e, mais especificamente, do agroturismo.
Nas definições de Verbole (2002) e Baidal (2000), existem diferenças significativas nas conceituações em torno do agroturismo na Europa.
Tulik (2003) apresenta os princípios que devem nortear o agroturismo: 
- Atividade agrícola e/ou pecuária na propriedade;
- Turismo como atividade complementar da renda e das outras atividades agrícolas;
- Organização e gestão familiar, sendo obrigatória a presença do proprietário;
- Alojamento em propriedade rural integrado à moradia do proprietário, ou em apartamentos individuais remodelados ou construídos para este fim;
- Alimentação baseada na cozinha tradicional do lugar e elaborada com produtos locais;
- Eventual oferecimento de atividades alternativas de lazer e recreação no entorno da propriedade;
- Participação do turista nas atividades rotineiras (cultivo e colheita, cuidados com o gado, preparação de alimentos tradicionais) ou, pelo menos, possibilidade de observação;
- Contato direto com o meio rural e a população residente;
-Caracterizado como um modelo difuso, em pequena escala, não congestionado, com aproveitamento máximo dos recursos existentes.
Pondera-se que essa sistematização dos princípios do agroturismo feita por Tulik (2003) é extremamente pertinente para se pensar a definição de agroturismo no Brasil. Apesar de discordarmos com a simples importação de conceitos elaborados em realidades diferentes da brasileira, os princípios apresentados mostram algumas peculiaridades do agroturismo, sobretudo, no que tange à participação do turista nas atividades da propriedade, o aproveitamento da culinária local, e o contato entre turistas e autóctones. 
Bricalli (2005) procura expor o turismo rural, e sugere três novas categorias dentro do turismo rural: o turismo rural familiar, turismo rural empresarial e turismo rural misto. Na categoria familiar ideal,  
[...] a residência do empreendedor é no próprio empreendimento, a mão de obra utilizada nas tarefas é familiar, o estilo das edificações apresenta características rurais, os atrativos turísticos são locais e as atividades agrícolas se fazem presentes. 
Já na categoria empresarial ideal,  
[...] a residência do empreendedor é fora do empreendimento, a mão de obra utilizada nas tarefas é contratada, o estilo das edificações apresenta características urbanas, os atrativos turísticos são artificiais e as atividades agrícolas não existem. 
As situações descritas por Bricalli (2005) como ideais estão situadas em extremos, podendo, na prática, ocorrer situações intermediárias. Para os empreendimentos que apresentaram características dos dois modelos, o autor usou, em seu estudo empírico, a categoria turismo rural misto.
Em nossa opinião, o conceito de agroturismo permite incorporar grande parte dos agricultores familiares envolvidos com o turismo, pois, além da existência de atividades agropecuárias, os agricultores familiares costumam ter seus principais atrativos vinculados a tais atividades, seja por meio da observação e da participação em atividades agrícolas e pecuárias, da comercialização de produtos in natura e transformados, do uso de animais para atividades de lazer (pesca, passeios a cavalo, charrete, carro de boi), e do modo de vida rural tradicional, onde se planta e se vive da “terra”. Registre-se, no entanto, que também existem agricultores familiares que abrem suas propriedades por possuírem algum atrativo natural (cachoeiras, rios, escarpas, cavernas, matas), e que não aproveitam a demanda existente para valorizar suas atividades agropecuárias cotidianas. Estes agricultores não estariam ofertando agroturismo, mas o ecoturismo ou o turismo eco rural, ambos inseridos no turismo no espaço rural.
Tessari (2001) elenca os seguintes objetivos do agroturismo: - promover a melhoria da vida da população rural, complementando a renda; - reduzir o fluxo e os efeitos do êxodo rural; - valorizar o potencial agrícola e turístico do campo; - reforçar a filosofia de um turismo que promova a conservação ambiental e a cultura regional.
Os objetivos apontados por Tessari (2001) demonstram que o agroturismo deve ter como maior beneficiária a população rural, sobretudo, os agricultores. Não obstante, os projetos e políticas públicas de agroturismo devem ter como foco a melhoria da qualidade de vida do homem do campo, e não o atendimento aos anseios e ao imaginário dos turistas, fortemente influenciados pelo trade e pela mídia.
Moraes; Leite; Souza (2006) indicam as seguintes características utilizadas para definir o empreendimento agroturístico:
- O agricultor deve desenvolver atividades agropecuárias e residir na propriedade;
- A mão de obra familiar ocupada na atividade do turismo deve representar no mínimo 50% da mão de obra total no período de maior demanda turística;
- A renda das atividades agropecuárias deve ser igual ou maior a 20% da renda líquida anual da unidade familiar.
No entanto, as características usadas por Moraes; Leite; Souza (2006) não faz nenhuma referência à necessidade de participação direta ou indireta do turista em atividades agropecuárias tradicionais, fato que se considera fundamental para caracterizar o agroturismo. Assim, as características que os autores acima utilizam para definir um empreendimento agroturístico, correspondem em nossa opinião, a importantes características para definir os empreendimentos de turismo rural de propriedade e/ou gestão por parte de agricultores familiares, mas não se constituem em características definidoras do agroturismo.
 Referente aos conceitos de turismo rural é pertinente ressaltar o uso indevido dos termos turismo rural e agroturismo em empreendimentos que não oferecem pernoite. Geralmente, há uma preferência de agências, empreendedores, comerciantes e políticos em enfatizar a comercialização de uma oferta de turismo rural e agroturismo, pois isso atrai mais os turistas em potencial. Todavia, a maior parte dos empreendimentos que dizem oferecer o turismo rural e o agroturismo, ao não ofertarem o pernoite, estariam oferecendo apenas o lazer ou o excursionismo, e não propriamente o turismo.  
 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O debate conceitual se faz pertinente para qualquer área do conhecimento, pois através dos conceitos, dialoga-se com a realidade e teoriza os elementos empíricos que são pesquisados. Ao perceber um uso indiscriminado dos conceitos relacionados ao turismo rural, com destaque para o próprio conceito de turismo rural, onde quase toda a oferta de lazer e turismo presente no complexo, heterogêneo e híbrido “espaço rural” é comumente autodenominada como turismo rural, procura-se discutir e apresentar elementos do debate em torno do conceito de turismo rural.
Ao estabelecer a diferenciação entre turismo no espaço rural; turismo rural e agroturismo buscamos posicionar-nos frente a esse debate, sem, no entanto, ignorar outros conceitos correlatos já utilizados por instituições públicas, privadas e no meio acadêmico, como o de turismo rural na agricultura familiar, turismo comunitário, turismo de base local, entre outros.
Acredita-se que a reflexão acerca dos conceitos de turismo, em geral, e sua correta aplicação entre o trade turístico, na mídia e também na sociedade em geral, tendem a qualificar a oferta e a demanda turística no espaço rural, e a proporcionar condições para o necessário aperfeiçoamento dos conceitos e da aplicação destes nas realidades empíricas estudadas em todo Brasil, pois a abstração teórica e conceitual é fundamental para apreender o real. 
  REFERÊNCIAS
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BRICALLI, Luiz Carlos. 2005. Estudo das tipologias do Turismo Rural – Alfredo Chaves (ES). Santa Maria: Ed. Facos. 
CAMPANHOLA, Carlos; SILVA, José G. da. 2000. O turismo como nova fonte de renda para o pequeno agricultor brasileiro. In: ALMEIDA, J. A. e RIEDL, M. (Org.). Turismo rural: ecologia, lazer e desenvolvimento. Bauru, SP: EDUCS, p. 145-179. 
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NOVAES, Carla A. 2004. Turismo rural e agroturismo diferenciado de turismo em espaço rural: uma proposta. In: CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE TURISMO RURAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, 4, 2004, Joinville. Anais... Joinville: IELUSC, (CD ROM). 
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RUBELO, João e LUCHIARI, Maria T. 2005. O Circuito das Frutas – SP no contexto do turismo rural. CONGRESSO BRASILEIRO DE TURISMO RURAL, 2005, Piracicaba. 
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TULIK, Olga. 2003. Turismo Rural. São Paulo: Aleph.

VERBOLE, A. 2002. A busca pelo imaginário rural. In: RIEDL, Mario; ALMEIDA, Joaquim A.; VIANA, Andyara L. B. (Org.). Turismo rural: tendências e sustentabilidade. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, p. 117-140.