sábado, 14 de dezembro de 2013

MISSÕES: PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE

Em comemoração aos 30 anos da declaração do Sítio de São Miguel Arcanjo como Patrimônio da Humanidade, a Secretaria do Turismo (Setur/RS) promoveu o Seminário Internacional Missões - Patrimônio da Humanidade: turismo cultural e preservação, nos dias 12 e 13 de dezembro, em São Miguel das Missões. A atividade ocorreu em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e Prefeitura do Município.
O Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo abriga parte da antiga redução Jesuítica-Guarani de São Miguel Arcanjo, fundada por volta de 1687, e o Museu das Missões, inaugurado em 1940. A elevação à Patrimônio da Humanidade reconheceu o valor histórico do local, que também completa 75 anos de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
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De acordo com a secretária do Turismo, Abgail Pereira, o sítio é parte importante da história do Rio Grande do Sul e, como tal, deve ser valorizado. “Estamos investindo nas Missões com o objetivo de atrair ainda mais turistas às ruínas. Entre as ações que estamos realizando com esse intuito, além da realização deste seminário, foi firmado um convênio com a Associação Amigos das Missões onde a Setur repassou R$ 185 mil para a aquisição de áudio guias em sete idiomas para o espetáculo Som e Luz, além de uma versão infantil em português, espanhol e guarani e uma em libras para auxiliar os deficientes auditivos”, disse.


Abgail destacou ainda que a Setur faz está inserida em um projeto do PAC das Cidades Históricas, do Ministério do Turismo (Mtur), que prevê a construção de um Centro Cultural das Missões, onde haverá um local diferenciado para receber os turistas.

O seminário internacional Missões - Patrimônio da Humanidade: turismo cultural e preservação foram realizados no Hotel Park Tenondé.
E-mail parque.missoes@iphan.gov.br -  telefone (55) 3381-1399.
12 de dezembro - Quinta-feira


8 h 30 min - Abertura oficial com a presença da secretária do Turismo, Abgail Pereira

9 h 30 min – Painel História e Arqueologia nas Missões, com Arno Kern, PUC – Arqueologia histórica nas missões jesuíticas coloniais platinas, Eduardo Neumann, UFRGS – A escrita indígena nas reduções do Paraguai (séculos XVII e XVIII), Walmir Pereira, Unisinos – Patrimônio Cultural da Humanidade e os guarani Mbya.
Moderação: Ronaldo Colvero, Diretor Uni Pampa – Campus São Borja.

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ARNO ALVAREZ KERN.

Nasceu em 5 de maio de 1940, em Santo Ângelo. Aos sete anos, acompanhando a família, fixou-se em Porto Alegre, onde completou a educação fundamental. Licenciou-se em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1969. Concluiu mestrado em História na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em 1979, e doutorado em Arqueologia na École de Hautes Études en Sciences Sociales (Ehess), Paris, em 1981. Também fez dois pós-doutorados pela Ehess em 1996 e 1997.


Seu livro Missões: Uma Utopia Política foi publicada em 1982 pela editora Mercado Aberto. A edição está esgotada. Este ano, que marca o 30º aniversário de publicação do livro, o autor prepara uma segunda edição revista e aumentada. Professor aposentado da UFRGS, atualmente é professor do  programa de Pós-graduação em História da PUCRS. Especialista internacionalmente reconhecido em história das missões jesuíticas na região oeste do Rio Grande do Sul, é também autor de Utopias e Missões Jesuíticas (Editora da UFRGS, 1994) e Antecedentes Indígenas (Editora da UFRGS, 1994).

Zero Hora – ONDE O SENHOR NASCEU E CRESCEU? COMO E ONDE FOI SUA EDUCAÇÃO?

ARNO KERN – Ao dizer onde nasci você vai entender melhor por que faço pesquisa sobre Missões. Nasci em Santo Ângelo. Sou missioneiro, nasci na última redução fundada pelos jesuítas na região das Missões. Desde pequeno, ouvia lendas do subterrâneo e dos tesouros enterrados. Era comum, na sociedade missioneira, ir passar os finais de semana nas ruínas, fazer churrascos. Essa ligação com o passado missioneiro eu trouxe comigo quando vim para Porto Alegre. Na hora de escolher um tema para a dissertação de mestrado, feito também em Porto Alegre, me dei conta de que havia, no ambiente intelectual da época, uma série de controvérsias em relação ao tema. Para um autor, as Missões eram um sistema comunista antes de Marx. Outros diziam que era uma república de cristãos primitivos, como a Igreja cristã no início da história do cristianismo. Outros, em um viés um pouco mais rígido dentro do marxismo, achavam que era um socialismo missioneiro, modo de produção novo e original na história. Na realidade, ninguém conceituava nada. Algumas dessas abordagens implicavam dizer que os guaranis, porque não tinham propriedade privada, eram comunistas. Ora, os guaranis eram homens pré-históricos e os homens pré-históricos não tinham propriedade privada. Os jesuítas também seriam comunistas. Esquecia-se que todas as ordens religiosas fazem voto de pobreza e nem por isso se tornam comunistas. Isso dá uma ideia do tipo de controvérsia e de falta de clareza que havia. Em minha opinião, as Missões eram importantes por outros motivos. Em primeiro lugar, ficavam em uma dupla fronteira. Primeiro, uma fronteira entre Portugal e Espanha. Duas frentes de colonização se chocavam aqui, em um atrito bastante sério, e as Missões estavam exatamente no limiar entre esses dois grandes impérios coloniais. Segundo, as Missões se situavam em uma fronteira que me parecia evidente, mas da qual os historiadores da época não se davam conta: aquela entre a pré-história e a história. Existiam apenas 60 missionários nos povoados, com 150 mil guaranis recém-saídos da pré-história. Ao deixar suas aldeias, onde eram aldeões horticultores neolíticos – era o que eles eram, para não dizer que eram também canibais –, esses guaranis carregavam sua cultura para os povoados missioneiros.

ZH – AS MISSÕES FORAM PARTE DO PROJETO COLONIAL TANTO DE PORTUGAL COMO DA ESPANHA?

KERN – Portugal e Espanha usaram muito o sistema que Montoya (Antônio Ruiz de Montoya, jesuíta peruano, 1585 – 1652) chamou de “guerra espiritual”. Não foi uma campanha militar para conquista de território, a não ser bem no início. Era muito mais barato mandar um missionário com uma cruz na mão, um rosário, uma gravura de um santo e uma Bíblia. Você pegava indígenas loucos para ter acesso à tecnologia do branco, como o metal, e eles iam pouco a pouco se inserindo na sociedade portuguesa ou espanhola. Havia missionários jesuítas na Argentina, no Paraguai, no Rio Grande do Sul e em todo o resto do Brasil, mas também na Bolívia. Havia missões jesuíticas na região amazônica. O próprio Vieira (Antonio Vieira, jesuíta português, 1608 – 1697) andou pelas missões no Maranhão. Essas missões faziam a inserção dos grupos indígenas nos povoados espanhóis e portugueses. Essa fímbria entre a civilização que chegava e o mundo pré-histórico que havia prevalecido na América era muito delicada. É uma situação bem interessante do ponto de vista histórico. Na época em que comecei a pesquisar, o importante não era tanto escolher um tema para discorrer, mas encontrar um problema científico relevante na história. Ao me voltar para o tema das Missões, não só eu tinha esse problema, que ninguém havia resolvido convenientemente, como podia acrescentar um século a mais na história do Rio Grande do Sul. Todas as histórias do Estado naquela época, a maioria escrita por padres, generais, médicos, começavam com a fundação de Rio Grande, no século 18. Com o período missioneiro, ia-se ao século 17. E, se considerarmos que os guaranis chegaram aqui há 1,4 mil anos, acrescentava-se uma boa parte de pré-história a esse intervalo.

ZH – OS MISSIONÁRIOS TINHAM UM PLANO DETERMINADO SOBRE COMO REALIZAR SEU TRABALHO OU ATUAVAM DE IMPROVISO?

KERN – Os jesuítas queriam que esses guaranis se transformassem em cristãos e fossem reduzidos, como eles diziam, à vida política. Era preciso que se reunissem em um povoado, onde seriam homens politizados, distantes do nomadismo pré-histórico. Nesse ponto, os jesuítas são muito pragmáticos. Eles partem da concepção, baseada na filosofia grega de Platão e Aristóteles, de que é preciso reduzir o indivíduo à vida na cidade, torná-lo um cidadão. Depois de civilizado, esse indivíduo será cristianizado. O problema era bastante complicado. Era preciso convencer diversos caciques, com seus vassalos, a fundar uma cidadezinha, um “pueblo de indios”, como é dito na documentação espanhola. Isso implicava arregaçar as mangas, se é que as tinham, e fazer um trabalho hercúleo: instalar uma praça central, fazer ruas, construir uma igreja no fundo da praça. Seria preciso organizar a instalação desses grupos indígenas nesse espaço. A herança indígena, porém, é muito forte e vai pesar na formação do povoado missioneiro. A plaza Mayor, típica da cidade espanhola, era uma herança da ágora grega e do fórum romano. As ruas se cortavam em ângulo reto, uma característica que vem do mundo grego. Mas não havia quarteirões de casas, como nas cidades europeias. As casas eram típicas ocas indígenas amazônicas, onde os caciques viviam com seus vassalos. Não havia funcionários do rei, somente padres. Junto à igreja, cria-se um conjunto com cemitério, claustro, pátio dos artífices e quinta. Existem 2 mil exemplares desse tipo de construção na Europa: são os mosteiros medievais. Primeiro, os dos beneditinos, depois cluniacenses, franciscanos, dominicanos. A última, fundada na Renascença, foi a dos jesuítas alunos de Erasmo de Roterdã. Eles implantaram um modelo que funcionou em toda a Europa para a catequização em territórios pagãos.

ZH – QUAL FOI O IMPACTO DA SUA PESQUISA NA MANEIRA COMO O ELEMENTO INDÍGENA É VISTO NA HISTÓRIA RIO-GRANDENSE?

KERN – Quando eu cursava a universidade, houve comemorações de diversas efemérides de imigração: alemã, italiana. Faltava um personagem em nossa história, que era muito malvisto. Era menosprezado como desimportante, em pequeno número e sem contribuição relevante. Havia um autor da época que falava mesmo em “viveiro guarani”. Ora, viveiro remete a animais, não gente. Por outro lado, o processo de colonização vai levar ao povoamento da região. Os jesuítas não queriam escravos. Como não havia muros nem portas de entrada, todos podiam entrar e sair do povoado quando quisessem. Os índios eram atraídos com peças de metal. ROQUE GONZÁLEZ (jesuíta paraguaio, 1576 – 1628) tinha uma frase muito engraçada: ele dizia que, com uma lâmina de machado dada a um cacique, se ganhava as “almas” dos índios – como se fossem as almas dos índios que eles estivessem ganhando. Os índios não sabiam bem para que servia aquilo, mas sabiam que era importante, pois poderiam derrubar uma floresta com mais facilidade do que se usassem seus machados neolíticos. Muitos anos antes das Missões, o conquistador espanhol Solís (Juan Díaz de Solís, descobridor do Rio da Prata) recebeu uma homenagem muito grande dos guaranis. Como ele chegou mostrando que era um poderoso feiticeiro, capaz de levar uma ilha de um lado para outro – os índios imaginavam que as caravelas eram ilhas –, os guaranis o receberam em terra e o comeram em um ritual de canibalismo para incorporar os poderes daquele xamã. Não sei se Solís entendeu bem a homenagem que estava recebendo. (Risos.) Assim, o indígena entra na história e dá uma contribuição muito grande ao processo de colonização. Os missionários sobreviveram graças à alimentação indígena – o milho, a mandioca. Havia superávit de alimentos, e isso salvou os europeus nas povoações. O problema não era a agricultura, e sim a caça: para caçar, os índios tinham de migrar e voltavam a ter hábitos “pagãos”, na expressão dos jesuítas. Nesse momento, introduz-se o rebanho de gado.

ZH – OS JESUÍTAS PODIAM ATRAIR OS ÍNDIOS COM PRESENTES, MAS COMO CONSEGUIAM CONVENCÊ-LOS A PERMANECER NO POVOADO?

KERN – Uma das coisas que os jesuítas fazem é dizer aos índios: vocês estão aí lutando contra a conquista portuguesa e espanhola, têm de enfrentar os bandeirantes e nós lhes oferecemos armas de fogo. Mais de 800 armas de fogo foram introduzidas nas Missões pelos jesuítas, os índios passaram a se exercitar no manejo dessas armas e foi graças à criação de uma milícia guarani que a Espanha deixou de perder territórios. O resultado disso é que, nos povoados missioneiros, guaranis foram armados para defender a fronteira espanhola. Armados, esses guaranis não seriam escravizados nem pelo português nem pelo espanhol. Há um grande compromisso de parte a parte, e se a letra do contrato não for cumprida, rompe-se a relação. Seria impossível que os 60 jesuítas radicados nas Missões prendessem dezenas de milhares de guaranis. Os índios dariam risada e pagariam com a própria vida para evitar que isso ocorresse.

ZH – EM QUE MOMENTO AS ARMAS SÃO INTRODUZIDAS?

KERN – Em um primeiro momento, eles tentam fazer paliçadas para se defender, mas não conseguem deter os bandeirantes que avançam até o Rio Grande do Sul. A certa altura, um ouvidor da Coroa espanhola decide que a solicitação de armas feita pelos jesuítas estava correta e autoriza o armamento dos índios. No momento em que as armas são entregues, trava-se no Uruguai a Batalha de Mbororé (1641), na qual os bandeirantes – na realidade, cerca de 500 paulistas e mil índios tupis – são derrotados por pouco mais de 3 mil guaranis. Mas foi uma batalha de três dias. Nessa primeira etapa, começa a ocorrer o armamento indígena. A Espanha percebe que vai perder todos os territórios ao sul do Brasil. Se fossem contabilizados todos os espanhóis da região, incluindo ASSUNÇÃO E BUENOS AIRES, não havia mais de 500 soldados. Se uma bandeira vinha com quase 1,5 mil homens, não havia tropa espanhola que pudesse detê-la. Então, esse é a razão pela qual o armamento indígena é vital. E, se é assim, não há como escravizar esses índios, por mais que Assunção e Buenos Aires vejam esses indígenas como mão de obra escrava potencial. No entanto, pelo menos até o final da experiência missioneira, isso não foi possível. Muitos historiadores dizem que, afinal, os jesuítas conseguiram isso. Sim, mas conseguiram porque havia uma guerra na fronteira. Se não fosse assim, talvez eles não conseguissem de Espanha essa concessão imensa de armar os guaranis e colocá-los em serviço nas batalhas. Portugal fez isso uma vez, para combater a invasão holandesa no Nordeste. Os índios foram armados e, assim que os holandeses foram expulsos, desarmados.

ZH – COMO OCORRE O DESAPARECIMENTO DA EXPERIÊNCIA MISSIONEIRA?

KERN – A Guerra Guaranítica (conflito de 1750 a 1756, que opôs Espanha e Portugal, de um lado, e os Sete Povos rebelados da margem esquerda do Rio Uruguai, de outro, tendo os últimos rejeitados os termos do Tratado de Madri e se recusado a aceitar o domínio português) abate o moral dos indígenas, mas não provoca o desaparecimento de nada. Os portugueses tentam incendiar São Miguel, mas não conseguem. Se tu olhares atrás do altar-mor das ruínas da Catedral de São Miguel, há pedras estouradas pelo calor do fogo. A vida continua durante um tempo, mas a Companhia de Jesus, a certa altura, é expulsa por razões relacionadas à política na metrópole. No lugar deles, são enviados franciscanos ou administradores do Estado para ocupar seus lugares. Quando os jesuítas vão embora, os guaranis entendem que seus XAMÃS os estão abandonando e começam a deixar os povoados. Nesse momento, gradualmente, começa a degradação dos povoados. Cada viajante do século 19 que passa pelos Sete Povos conta uma história pior: a Igreja era muito bonita, mas não existe mais, há apenas algumas centenas de índios morando lá. É uma lenta degradação que ocorre de forma contínua até dar lugar à ruína de hoje. O espírito coletivo desaparece. Os guaranis saíram dos povoados e foi para as cidades espanholas e portuguesas oferecer sua força de trabalho. Sabiam trabalhar o couro, o metal, fazer ladrilhos cerâmicos e telhas. Tinham aprendido isso no pátio dos artífices das missões e fazem o trabalho artesanal que os espanhóis não quiseram fazer, porque tinham vindo para cá enriquecer e não para trabalhar.

ZH – NÃO FORAM APENAS PARA AS CIDADES, MAS PARA AS ESTÂNCIAS.

KERN – Com certeza. Já havia estâncias missioneiras quando os portugueses e espanhóis tomaram conta daquela região. Esses índios vão dar origem ao homem campeiro, ao gaúcho. Até hoje, quando um gaúcho encontra outro, dá um tapa no ombro e diz: “Índio velho”. Isso é extremamente amigável e gentil, não é nenhuma ofensa. Eles se reconhecem pela cara. Eles estão aí sempre, nunca desapareceram. Apenas mudaram de nome.


2º PALESTRANTE:
EDUARDO SANTOS NEUMANN  DOUTOR - UFRJ / HISTÓRIA SOCIAL –



ALFABETIZAÇÃO, NAS REDUÇÕES JESUÍTICAS-GUARANIS E A APROPRIAÇÃO DA ESCRITA PELOS INDÍGENAS.



É Historiador e professor do departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É mestre em História pelo Programa de Pós Graduação em História (UFRGS), período no qual foi contemplado com uma bolsa de estudos do Instituto de Cooperação Ibero-americana (Espanha) para a realização de pesquisa em arquivos. É doutor em História Social pelo Programa de Pós Graduação em História Social/ UFRJ (2005),realizando pesquisa na Espanha com bolsa "sanduíche" (2003/2004). Temas de investigação: história social da escrita, história da América espanhola e história indígena. Desenvolve suas pesquisas no âmbito da história da América colonial, privilegiando a sociedade rio-platense e sua condição de fronteira. Atualmente investiga as práticas letradas no rio da Prata, especialmente o impacto da alfabetização nas reduções jesuítico-guaranis e a apropriação da escrita pelos indígenas.

PALESTRA PROFERIDA DIA 12 DE DEZEMBRO DE 2013-
SEMINÁRIO INTERNACIONAL MISSÕES - PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE!!!

A palestra analisou os usos; funções e práticas da escrita indígena nas reduções do Paraguai nos séculos XVII e XVIII. A pesquisa visa demonstrar o valor conferido à escrita, pelos Guaranis, como uma adesão às regras do jogo político e às estratégias de negociação; através do domínio dos códigos escritos. Os documentos redigidos em guarani e; posteriormente; em espanhol; possibilitam examinar a difusão da escrita nas reduções. A instrução letrada; indissociável da catequese promovida nas reduções proporcionou aos índios missioneiros as condições para produzirem novas formas de expressão. Através das atividades religiosas e administrativas; houve um convívio com as práticas letradas que produziram efeitos sobre toda coletividade. A alfabetização nas reduções esteve limitada aos índios mais aptos ou de maior confiança dos missionários; ou seja; àqueles que integravam a “elite missioneira. O que se propõe analisar são os aspectos relacionados à escrita como uma prática sociocultural; demonstrando em que circunstâncias os Guarani fizeram uso da habilidade gráfica ou recorreram à aptidão de outros para produzirem relatos. O intenso uso da escrita por parte dos Guaranis letrados foi verificado a partir da celebração do Tratado de Madri; em 1750; pelas monarquias ibéricas. Este fato desencadeou a “reação escrita” desses indígenas que; como mecanismo de protesto; redigiram vários textos; esgrimindo argumentos contrários à execução da permuta das missões orientais pela Colônia do Sacramento. Com início dos trabalhos de demarcação e o rompimento da aliança que sustentava as relações entre as lideranças indígenas e os jesuítas; os Guarani destinaram à escrita uma finalidade política; como instrumento de seu alto governo. Através do envio de cartas e bilhetes; procuraram estabelecer redes de comunicação e organizar a resistência missioneira diante da presença das comissões demarcadoras. Após a expulsão dos jesuítas; a capacidade alfabética se apresenta de maneira desvinculada da reescrita religiosa. O conhecimento das regras epistolográficas permitiu aos índios estabelecer canais de comunicação diretamente com a administração colonial. Através do envio de cartas e memoriais; procuravam atuar dentro do legalismo das regras escritas.

Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br/logon/cad_usuario.jsp

12 h – Intervalo

13 h 30 min – Painel Arte, Arquitetura e Urbanismo nas Missões, com Ramón Gutierrez, CONICET, Argentina – Urbanismo das missões guaranis – um modelo alternativo, Darko Sustersic, UBA, Argentina – Contribuição dos Guaranis no desenvolvimento de novos padrões artísticos na imaginária e na arquitetura missioneira e Myriam Ribeiro de Oliveira, UFRJ – O universo iconográfico das imagens jesuítas do tipo missioneiro: notas para uma abordagem geral do tema

Moderação: Eduardo Hahn – Superintendente IPHAN-RS

15 h 30 min – Intervalo

16 h - Painel Antropologia e Etnologia nas Missões, com Beatriz Freire, IPHAN – Missões revisitadas: o Registro de São Miguel Arcanjo a partir de concepções Guarani, Flávio Leonel Abreu da Silveira, UFPA – Paisagem missioneira e transculturação na porção austral brasileira e Ariel Ortega, cineasta e cacique da Aldeia Koenju.

Moderação: Muriel Pinto, Uni pampa - Campus São Borja

18 h 30 min – Encerramento

20 h – Cinema nas Ruínas – apresentação do filme Duas Aldeias, uma Caminhada, realizado pelo grupo de jovens guaranis (sacristia da antiga igreja de São Miguel Arcanjo)
21 h 30 min – Espetáculo Som e Luz

13 de dezembro – Sexta-feira

9 h – Painel Marketing do Turismo Cultural, com Américo Córdula, Secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, Victor Toniolo, Coordenador de Acompanhamento e Estruturação de Produtos EMBRATUR, Carlos Augusto Silveira Alves, Presidente da Associação Amigos das Missões e Camila Mumbach, Diretora de Promoção e Marketing da Setur/RS

Moderação: Geovani Gisler, Instituto Iguassu-Misiones

12 h – Intervalo

13 h 30 min - Painel Patrimônio e Turismo Cultural nas Missões, com Pedro Salmeron, Instituto Andaluz do Patrimônio Histórico (IAPH), Espanha – Estratégias comparadas sobre turismo cultural nos Guias da Paisagem de Alhambra e Sevilha: bases de partida para o caso das Missões Jesuítico-Guarani, Andrey Schlee, IPHAN/Brasília e Ramón Gutierrez, CONICET, Argentina – Projeto Itinerário Cultural do MERCOSUL - Missões.

Moderação: Maximilianus Pinent – Diretor de Desenvolvimento do Turismo da SETUR-RS.

15 h 30 min – Intervalo

16 h - Painel As Missões como Patrimônio e Paisagem Cultural, com Ana Lúcia Goelzer Meira, IPHAN/RS – A trajetória do IPHAN nas Missões: da pedra e cal às referencias imateriais, Diego Luis Vivian, IBRAM – Museu das Missões: 1940 – 2013 e Pedro Salmerón, Instituto Andaluz do Patrimônio Histórico - IAPH, Espanha – Guia da Paisagem das Missões.

Moderação: Prefeitura Municipal de São Miguel das Missões

18 h 30 min – Encerramento

20 h – Cinema nas Ruínas – apresentação do filme Duas Aldeias, uma Caminhada, realizado pelo grupo de jovens guaranis (sacristia da antiga igreja de São Miguel Arcanjo)

21 h 30 min – Espetáculo Som e Luz.

Editado por: Edison Franco.