Em comemoração aos 30 anos da declaração do Sítio de São
Miguel Arcanjo como Patrimônio da Humanidade, a Secretaria do Turismo
(Setur/RS) promoveu o Seminário Internacional Missões - Patrimônio da
Humanidade: turismo cultural e preservação, nos dias 12 e 13 de dezembro, em
São Miguel das Missões. A atividade ocorreu em parceria com o Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e Prefeitura do Município.
O Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo abriga parte da
antiga redução Jesuítica-Guarani de São Miguel Arcanjo, fundada por volta de
1687, e o Museu das Missões, inaugurado em 1940. A elevação à Patrimônio da
Humanidade reconheceu o valor histórico do local, que também completa 75 anos
de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
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De acordo com a secretária do Turismo, Abgail Pereira, o
sítio é parte importante da história do Rio Grande do Sul e, como tal, deve ser
valorizado. “Estamos investindo nas Missões com o objetivo de atrair ainda mais
turistas às ruínas. Entre as ações que estamos realizando com esse intuito,
além da realização deste seminário, foi firmado um convênio com a Associação
Amigos das Missões onde a Setur repassou R$ 185 mil para a aquisição de áudio
guias em sete idiomas para o espetáculo Som e Luz, além de uma versão infantil
em português, espanhol e guarani e uma em libras para auxiliar os deficientes
auditivos”, disse.
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Abgail destacou ainda que a Setur faz está inserida em um
projeto do PAC das Cidades Históricas, do Ministério do Turismo (Mtur), que
prevê a construção de um Centro Cultural das Missões, onde haverá um local
diferenciado para receber os turistas.
O seminário internacional Missões - Patrimônio da
Humanidade: turismo cultural e preservação foram realizados no Hotel Park Tenondé.
E-mail parque.missoes@iphan.gov.br
- telefone (55) 3381-1399.
8 h 30 min - Abertura oficial com a presença da secretária
do Turismo, Abgail Pereira
9 h 30 min – Painel História e Arqueologia nas Missões, com
Arno Kern, PUC – Arqueologia histórica nas missões jesuíticas coloniais
platinas, Eduardo Neumann, UFRGS – A escrita indígena nas reduções do Paraguai
(séculos XVII e XVIII), Walmir Pereira, Unisinos – Patrimônio Cultural da Humanidade
e os guarani Mbya.
Moderação: Ronaldo Colvero, Diretor Uni Pampa – Campus São Borja.
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ARNO ALVAREZ KERN.
Nasceu em 5 de maio de 1940, em Santo Ângelo. Aos sete anos,
acompanhando a família, fixou-se em Porto Alegre, onde completou a educação
fundamental. Licenciou-se em História pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, em 1969. Concluiu mestrado em História na Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, em 1979, e doutorado em Arqueologia na École de
Hautes Études en Sciences Sociales (Ehess), Paris, em 1981. Também fez dois
pós-doutorados pela Ehess em 1996 e 1997.
Seu livro Missões: Uma Utopia Política foi publicada em 1982
pela editora Mercado Aberto. A edição está esgotada. Este ano, que marca o 30º
aniversário de publicação do livro, o autor prepara uma segunda edição revista
e aumentada. Professor aposentado da UFRGS, atualmente é professor do programa de Pós-graduação em História da
PUCRS. Especialista internacionalmente reconhecido em história das missões
jesuíticas na região oeste do Rio Grande do Sul, é também autor de Utopias e
Missões Jesuíticas (Editora da UFRGS, 1994) e Antecedentes Indígenas (Editora
da UFRGS, 1994).
Zero Hora – ONDE O
SENHOR NASCEU E CRESCEU? COMO E ONDE FOI SUA EDUCAÇÃO?
ARNO KERN – Ao
dizer onde nasci você vai entender melhor por que faço pesquisa sobre Missões.
Nasci em Santo Ângelo. Sou missioneiro, nasci na última redução fundada pelos
jesuítas na região das Missões. Desde pequeno, ouvia lendas do subterrâneo e
dos tesouros enterrados. Era comum, na sociedade missioneira, ir passar os
finais de semana nas ruínas, fazer churrascos. Essa ligação com o passado missioneiro
eu trouxe comigo quando vim para Porto Alegre. Na hora de escolher um tema para
a dissertação de mestrado, feito também em Porto Alegre, me dei conta de que
havia, no ambiente intelectual da época, uma série de controvérsias em relação
ao tema. Para um autor, as Missões eram um sistema comunista antes de Marx.
Outros diziam que era uma república de cristãos primitivos, como a Igreja
cristã no início da história do cristianismo. Outros, em um viés um pouco mais
rígido dentro do marxismo, achavam que era um socialismo missioneiro, modo de
produção novo e original na história. Na realidade, ninguém conceituava nada.
Algumas dessas abordagens implicavam dizer que os guaranis, porque não tinham
propriedade privada, eram comunistas. Ora, os guaranis eram homens
pré-históricos e os homens pré-históricos não tinham propriedade privada. Os
jesuítas também seriam comunistas. Esquecia-se que todas as ordens religiosas
fazem voto de pobreza e nem por isso se tornam comunistas. Isso dá uma ideia do
tipo de controvérsia e de falta de clareza que havia. Em minha opinião, as
Missões eram importantes por outros motivos. Em primeiro lugar, ficavam em uma
dupla fronteira. Primeiro, uma fronteira entre Portugal e Espanha. Duas frentes
de colonização se chocavam aqui, em um atrito bastante sério, e as Missões
estavam exatamente no limiar entre esses dois grandes impérios coloniais.
Segundo, as Missões se situavam em uma fronteira que me parecia evidente, mas
da qual os historiadores da época não se davam conta: aquela entre a
pré-história e a história. Existiam apenas 60 missionários nos povoados, com
150 mil guaranis recém-saídos da pré-história. Ao deixar suas aldeias, onde
eram aldeões horticultores neolíticos – era o que eles eram, para não dizer que
eram também canibais –, esses guaranis carregavam sua cultura para os povoados
missioneiros.
ZH – AS MISSÕES FORAM
PARTE DO PROJETO COLONIAL TANTO DE PORTUGAL COMO DA ESPANHA?
KERN – Portugal e
Espanha usaram muito o sistema que Montoya (Antônio Ruiz de Montoya, jesuíta peruano,
1585 – 1652) chamou de “guerra espiritual”. Não foi uma campanha militar para
conquista de território, a não ser bem no início. Era muito mais barato mandar
um missionário com uma cruz na mão, um rosário, uma gravura de um santo e uma
Bíblia. Você pegava indígenas loucos para ter acesso à tecnologia do branco,
como o metal, e eles iam pouco a pouco se inserindo na sociedade portuguesa ou
espanhola. Havia missionários jesuítas na Argentina, no Paraguai, no Rio Grande
do Sul e em todo o resto do Brasil, mas também na Bolívia. Havia missões
jesuíticas na região amazônica. O próprio Vieira (Antonio Vieira, jesuíta
português, 1608 – 1697) andou pelas missões no Maranhão. Essas missões faziam a
inserção dos grupos indígenas nos povoados espanhóis e portugueses. Essa
fímbria entre a civilização que chegava e o mundo pré-histórico que havia
prevalecido na América era muito delicada. É uma situação bem interessante do
ponto de vista histórico. Na época em que comecei a pesquisar, o importante não
era tanto escolher um tema para discorrer, mas encontrar um problema científico
relevante na história. Ao me voltar para o tema das Missões, não só eu tinha
esse problema, que ninguém havia resolvido convenientemente, como podia
acrescentar um século a mais na história do Rio Grande do Sul. Todas as
histórias do Estado naquela época, a maioria escrita por padres, generais,
médicos, começavam com a fundação de Rio Grande, no século 18. Com o período
missioneiro, ia-se ao século 17. E, se considerarmos que os guaranis chegaram
aqui há 1,4 mil anos, acrescentava-se uma boa parte de pré-história a esse
intervalo.
ZH – OS MISSIONÁRIOS
TINHAM UM PLANO DETERMINADO SOBRE COMO REALIZAR SEU TRABALHO OU ATUAVAM DE
IMPROVISO?
KERN – Os
jesuítas queriam que esses guaranis se transformassem em cristãos e fossem reduzidos,
como eles diziam, à vida política. Era preciso que se reunissem em um povoado,
onde seriam homens politizados, distantes do nomadismo pré-histórico. Nesse
ponto, os jesuítas são muito pragmáticos. Eles partem da concepção, baseada na
filosofia grega de Platão e Aristóteles, de que é preciso reduzir o indivíduo à
vida na cidade, torná-lo um cidadão. Depois de civilizado, esse indivíduo será
cristianizado. O problema era bastante complicado. Era preciso convencer
diversos caciques, com seus vassalos, a fundar uma cidadezinha, um “pueblo de
indios”, como é dito na documentação espanhola. Isso implicava arregaçar as
mangas, se é que as tinham, e fazer um trabalho hercúleo: instalar uma praça
central, fazer ruas, construir uma igreja no fundo da praça. Seria preciso organizar
a instalação desses grupos indígenas nesse espaço. A herança indígena, porém, é
muito forte e vai pesar na formação do povoado missioneiro. A plaza Mayor,
típica da cidade espanhola, era uma herança da ágora grega e do fórum romano.
As ruas se cortavam em ângulo reto, uma característica que vem do mundo grego.
Mas não havia quarteirões de casas, como nas cidades europeias. As casas eram
típicas ocas indígenas amazônicas, onde os caciques viviam com seus vassalos.
Não havia funcionários do rei, somente padres. Junto à igreja, cria-se um
conjunto com cemitério, claustro, pátio dos artífices e quinta. Existem 2 mil
exemplares desse tipo de construção na Europa: são os mosteiros medievais.
Primeiro, os dos beneditinos, depois cluniacenses, franciscanos, dominicanos. A
última, fundada na Renascença, foi a dos jesuítas alunos de Erasmo de Roterdã.
Eles implantaram um modelo que funcionou em toda a Europa para a catequização
em territórios pagãos.
ZH – QUAL FOI O
IMPACTO DA SUA PESQUISA NA MANEIRA COMO O ELEMENTO INDÍGENA É VISTO NA HISTÓRIA
RIO-GRANDENSE?
KERN – Quando eu
cursava a universidade, houve comemorações de diversas efemérides de imigração:
alemã, italiana. Faltava um personagem em nossa história, que era muito
malvisto. Era menosprezado como desimportante, em pequeno número e sem
contribuição relevante. Havia um autor da época que falava mesmo em “viveiro
guarani”. Ora, viveiro remete a animais, não gente. Por outro lado, o processo
de colonização vai levar ao povoamento da região. Os jesuítas não queriam
escravos. Como não havia muros nem portas de entrada, todos podiam entrar e
sair do povoado quando quisessem. Os índios eram atraídos com peças de metal. ROQUE GONZÁLEZ (jesuíta
paraguaio, 1576 – 1628) tinha uma frase muito engraçada: ele dizia que, com uma
lâmina de machado dada a um cacique, se ganhava as “almas” dos índios – como se
fossem as almas dos índios que eles estivessem ganhando. Os índios não sabiam
bem para que servia aquilo, mas sabiam que era importante, pois poderiam
derrubar uma floresta com mais facilidade do que se usassem seus machados
neolíticos. Muitos anos antes das Missões, o conquistador espanhol Solís (Juan
Díaz de Solís, descobridor do Rio da Prata) recebeu uma homenagem muito grande
dos guaranis. Como ele chegou mostrando que era um poderoso feiticeiro, capaz
de levar uma ilha de um lado para outro – os índios imaginavam que as caravelas
eram ilhas –, os guaranis o receberam em terra e o comeram em um ritual de
canibalismo para incorporar os poderes daquele xamã. Não sei se Solís entendeu
bem a homenagem que estava recebendo. (Risos.) Assim, o indígena entra na
história e dá uma contribuição muito grande ao processo de colonização. Os
missionários sobreviveram graças à alimentação indígena – o milho, a mandioca.
Havia superávit de alimentos, e isso salvou os europeus nas povoações. O
problema não era a agricultura, e sim a caça: para caçar, os índios tinham de
migrar e voltavam a ter hábitos “pagãos”, na expressão dos jesuítas. Nesse
momento, introduz-se o rebanho de gado.
ZH – OS JESUÍTAS
PODIAM ATRAIR OS ÍNDIOS COM PRESENTES, MAS COMO CONSEGUIAM CONVENCÊ-LOS A
PERMANECER NO POVOADO?
KERN – Uma das
coisas que os jesuítas fazem é dizer aos índios: vocês estão aí lutando contra
a conquista portuguesa e espanhola, têm de enfrentar os bandeirantes e nós lhes
oferecemos armas de fogo. Mais de 800 armas de fogo foram introduzidas nas
Missões pelos jesuítas, os índios passaram a se exercitar no manejo dessas
armas e foi graças à criação de uma milícia guarani que a Espanha deixou de
perder territórios. O resultado disso é que, nos povoados missioneiros,
guaranis foram armados para defender a fronteira espanhola. Armados, esses
guaranis não seriam escravizados nem pelo português nem pelo espanhol. Há um
grande compromisso de parte a parte, e se a letra do contrato não for cumprida,
rompe-se a relação. Seria impossível que os 60 jesuítas radicados nas Missões
prendessem dezenas de milhares de guaranis. Os índios dariam risada e pagariam
com a própria vida para evitar que isso ocorresse.
ZH – EM QUE MOMENTO
AS ARMAS SÃO INTRODUZIDAS?
KERN – Em um
primeiro momento, eles tentam fazer paliçadas para se defender, mas não
conseguem deter os bandeirantes que avançam até o Rio Grande do Sul. A certa
altura, um ouvidor da Coroa espanhola decide que a solicitação de armas feita
pelos jesuítas estava correta e autoriza o armamento dos índios. No momento em
que as armas são entregues, trava-se no Uruguai a Batalha de Mbororé (1641), na
qual os bandeirantes – na realidade, cerca de 500 paulistas e mil índios tupis
– são derrotados por pouco mais de 3 mil guaranis. Mas foi uma batalha de três
dias. Nessa primeira etapa, começa a ocorrer o armamento indígena. A Espanha
percebe que vai perder todos os territórios ao sul do Brasil. Se fossem
contabilizados todos os espanhóis da região, incluindo ASSUNÇÃO E BUENOS AIRES, não havia mais de 500 soldados. Se uma
bandeira vinha com quase 1,5 mil homens, não havia tropa espanhola que pudesse
detê-la. Então, esse é a razão pela qual o armamento indígena é vital. E, se é
assim, não há como escravizar esses índios, por mais que Assunção e Buenos
Aires vejam esses indígenas como mão de obra escrava potencial. No entanto,
pelo menos até o final da experiência missioneira, isso não foi possível.
Muitos historiadores dizem que, afinal, os jesuítas conseguiram isso. Sim, mas
conseguiram porque havia uma guerra na fronteira. Se não fosse assim, talvez
eles não conseguissem de Espanha essa concessão imensa de armar os guaranis e
colocá-los em serviço nas batalhas. Portugal fez isso uma vez, para combater a
invasão holandesa no Nordeste. Os índios foram armados e, assim que os
holandeses foram expulsos, desarmados.
ZH – COMO OCORRE O
DESAPARECIMENTO DA EXPERIÊNCIA MISSIONEIRA?
KERN – A Guerra
Guaranítica (conflito de 1750 a 1756, que opôs Espanha e Portugal, de um lado,
e os Sete Povos rebelados da margem esquerda do Rio Uruguai, de outro, tendo os
últimos rejeitados os termos do Tratado de Madri e se recusado a aceitar o
domínio português) abate o moral dos indígenas, mas não provoca o
desaparecimento de nada. Os portugueses tentam incendiar São Miguel, mas não
conseguem. Se tu olhares atrás do altar-mor das ruínas da Catedral de São
Miguel, há pedras estouradas pelo calor do fogo. A vida continua durante um
tempo, mas a Companhia de Jesus, a certa altura, é expulsa por razões
relacionadas à política na metrópole. No lugar deles, são enviados franciscanos
ou administradores do Estado para ocupar seus lugares. Quando os jesuítas vão
embora, os guaranis entendem que seus XAMÃS
os estão abandonando e começam a deixar os povoados. Nesse momento,
gradualmente, começa a degradação dos povoados. Cada viajante do século 19 que
passa pelos Sete Povos conta uma história pior: a Igreja era muito bonita, mas
não existe mais, há apenas algumas centenas de índios morando lá. É uma lenta
degradação que ocorre de forma contínua até dar lugar à ruína de hoje. O
espírito coletivo desaparece. Os guaranis saíram dos povoados e foi para as
cidades espanholas e portuguesas oferecer sua força de trabalho. Sabiam
trabalhar o couro, o metal, fazer ladrilhos cerâmicos e telhas. Tinham
aprendido isso no pátio dos artífices das missões e fazem o trabalho artesanal
que os espanhóis não quiseram fazer, porque tinham vindo para cá enriquecer e
não para trabalhar.
ZH – NÃO FORAM APENAS
PARA AS CIDADES, MAS PARA AS ESTÂNCIAS.
KERN – Com
certeza. Já havia estâncias missioneiras quando os portugueses e espanhóis
tomaram conta daquela região. Esses índios vão dar origem ao homem campeiro, ao
gaúcho. Até hoje, quando um gaúcho encontra outro, dá um tapa no ombro e diz:
“Índio velho”. Isso é extremamente amigável e gentil, não é nenhuma ofensa.
Eles se reconhecem pela cara. Eles estão aí sempre, nunca desapareceram. Apenas
mudaram de nome.
2º PALESTRANTE:
EDUARDO SANTOS NEUMANN DOUTOR - UFRJ / HISTÓRIA SOCIAL –
ALFABETIZAÇÃO, NAS REDUÇÕES JESUÍTICAS-GUARANIS E A
APROPRIAÇÃO DA ESCRITA PELOS INDÍGENAS.
É Historiador e professor do departamento de História e do
Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. É mestre em História pelo Programa de Pós Graduação em História (UFRGS),
período no qual foi contemplado com uma bolsa de estudos do Instituto de
Cooperação Ibero-americana (Espanha) para a realização de pesquisa em arquivos.
É doutor em História Social pelo Programa de Pós Graduação em História Social/
UFRJ (2005),realizando pesquisa na Espanha com bolsa "sanduíche"
(2003/2004). Temas de investigação: história social da escrita, história da
América espanhola e história indígena. Desenvolve suas pesquisas no âmbito da
história da América colonial, privilegiando a sociedade rio-platense e sua
condição de fronteira. Atualmente investiga as práticas letradas no rio da
Prata, especialmente o impacto da alfabetização nas reduções jesuítico-guaranis
e a apropriação da escrita pelos indígenas.
PALESTRA PROFERIDA
DIA 12 DE DEZEMBRO DE 2013-
SEMINÁRIO
INTERNACIONAL MISSÕES - PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE!!!
A palestra analisou os usos; funções e práticas da escrita
indígena nas reduções do Paraguai nos séculos XVII e XVIII. A pesquisa visa
demonstrar o valor conferido à escrita, pelos Guaranis, como uma adesão às
regras do jogo político e às estratégias de negociação; através do domínio dos
códigos escritos. Os documentos redigidos em guarani e; posteriormente; em
espanhol; possibilitam examinar a difusão da escrita nas reduções. A instrução
letrada; indissociável da catequese promovida nas reduções proporcionou aos
índios missioneiros as condições para produzirem novas formas de expressão.
Através das atividades religiosas e administrativas; houve um convívio com as
práticas letradas que produziram efeitos sobre toda coletividade. A
alfabetização nas reduções esteve limitada aos índios mais aptos ou de maior
confiança dos missionários; ou seja; àqueles que integravam a elite
missioneira. O que se propõe analisar são os aspectos relacionados à escrita
como uma prática sociocultural; demonstrando em que circunstâncias os Guarani fizeram
uso da habilidade gráfica ou recorreram à aptidão de outros para produzirem
relatos. O intenso uso da escrita por parte dos Guaranis letrados foi
verificado a partir da celebração do Tratado de Madri; em 1750; pelas
monarquias ibéricas. Este fato desencadeou a reação escrita desses indígenas
que; como mecanismo de protesto; redigiram vários textos; esgrimindo argumentos
contrários à execução da permuta das missões orientais pela Colônia do
Sacramento. Com início dos trabalhos de demarcação e o rompimento da aliança
que sustentava as relações entre as lideranças indígenas e os jesuítas; os
Guarani destinaram à escrita uma finalidade política; como instrumento de seu
alto governo. Através do envio de cartas e bilhetes; procuraram estabelecer
redes de comunicação e organizar a resistência missioneira diante da presença das
comissões demarcadoras. Após a expulsão dos jesuítas; a capacidade alfabética
se apresenta de maneira desvinculada da reescrita religiosa. O conhecimento das
regras epistolográficas permitiu aos índios estabelecer canais de comunicação
diretamente com a administração colonial. Através do envio de cartas e
memoriais; procuravam atuar dentro do legalismo das regras escritas.
12 h – Intervalo
13 h 30 min – Painel Arte, Arquitetura e Urbanismo nas
Missões, com Ramón Gutierrez, CONICET, Argentina – Urbanismo das missões
guaranis – um modelo alternativo, Darko Sustersic, UBA, Argentina –
Contribuição dos Guaranis no desenvolvimento de novos padrões artísticos na
imaginária e na arquitetura missioneira e Myriam Ribeiro de Oliveira, UFRJ – O
universo iconográfico das imagens jesuítas do tipo missioneiro: notas para uma
abordagem geral do tema
Moderação: Eduardo Hahn – Superintendente IPHAN-RS
15 h 30 min – Intervalo
16 h - Painel Antropologia e Etnologia nas Missões, com
Beatriz Freire, IPHAN – Missões revisitadas: o Registro de São Miguel Arcanjo a
partir de concepções Guarani, Flávio Leonel Abreu da Silveira, UFPA – Paisagem
missioneira e transculturação na porção austral brasileira e Ariel Ortega,
cineasta e cacique da Aldeia Koenju.
Moderação: Muriel Pinto, Uni pampa - Campus São Borja
18 h 30 min – Encerramento
20 h – Cinema nas Ruínas – apresentação do filme Duas
Aldeias, uma Caminhada, realizado pelo grupo de jovens guaranis (sacristia da
antiga igreja de São Miguel Arcanjo)
21 h 30 min – Espetáculo Som e Luz
13 de
dezembro – Sexta-feira
9 h – Painel Marketing do Turismo Cultural, com Américo
Córdula, Secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, Victor Toniolo,
Coordenador de Acompanhamento e Estruturação de Produtos EMBRATUR, Carlos
Augusto Silveira Alves, Presidente da Associação Amigos das Missões e Camila
Mumbach, Diretora de Promoção e Marketing da Setur/RS
Moderação: Geovani Gisler, Instituto Iguassu-Misiones
12 h – Intervalo
13 h 30 min - Painel Patrimônio e Turismo Cultural nas
Missões, com Pedro Salmeron, Instituto Andaluz do Patrimônio Histórico (IAPH),
Espanha – Estratégias comparadas sobre turismo cultural nos Guias da Paisagem
de Alhambra e Sevilha: bases de partida para o caso das Missões
Jesuítico-Guarani, Andrey Schlee, IPHAN/Brasília e Ramón Gutierrez, CONICET,
Argentina – Projeto Itinerário Cultural do MERCOSUL - Missões.
Moderação: Maximilianus Pinent – Diretor de Desenvolvimento
do Turismo da SETUR-RS.
15 h 30 min – Intervalo
16 h - Painel As Missões como Patrimônio e Paisagem
Cultural, com Ana Lúcia Goelzer Meira, IPHAN/RS – A trajetória do IPHAN nas
Missões: da pedra e cal às referencias imateriais, Diego Luis Vivian, IBRAM –
Museu das Missões: 1940 – 2013 e Pedro Salmerón, Instituto Andaluz do
Patrimônio Histórico - IAPH, Espanha – Guia da Paisagem das Missões.
Moderação: Prefeitura Municipal de São Miguel das Missões
18 h 30 min – Encerramento
20 h – Cinema nas Ruínas – apresentação do filme Duas
Aldeias, uma Caminhada, realizado pelo grupo de jovens guaranis (sacristia da
antiga igreja de São Miguel Arcanjo)
21 h 30 min – Espetáculo Som e Luz.
Editado por: Edison Franco.
Editado por: Edison Franco.