TURISMO RURAL
Bel. Edison Vitor
Franco*
RESUMO
O interesse
pelo turismo rural, associado à expansão da oferta de turismo no Brasil possui
aspectos que assinalam para uma popularização do turismo rural e sua exposição
nos mais diversos meios de comunicação. Consequentemente, a utilização do termo
turismo rural vem se expandindo, de modo que é comum a utilização eventual e,
por vezes, seu conceito é confundido, por esta razão apresentam-se neste
artigo, conceitos de turismo no espaço rural, turismo rural e agroturismo. Baseado
em estudos e interpretações de pesquisadores do relevante tema busca-se o
turismo no espaço rural uma relação aos conceitos trabalhados, com resultados
viáveis para a região noroeste do RS.
Palavras-chave:
turismo rural, agroturismo, resultados.
*Edison Vitor Franco Bacharel
em Administração com Habilitação em Comércio Internacional. CRA/RS. Nº 33.886.
Turismólogo, com registro
na ABBTUR nº. 15.383/RS.
Instrutor de Cursos e Guia de
Turismo Regional e de Excursão Nacional, registrado no Cadastur Mtur nº 23. 010204.96-0.
INTRODUÇÃO
As pesquisas e estudos
pautados ao turismo no espaço rural são compreensíveis no Brasil e, em vários
países, principalmente, a partir da década de 1990. Assim, o crescimento do
turismo no espaço rural está profundamente ligado ao aumento da oferta
turística rural, assim como, uma maior procura da sociedade por atrativos e
empreendimentos relacionados ao bem-estar no campo.
A Organização
Mundial do Turismo (OMT) apresenta ações governamentais de apoio e
regulamentação do turismo, assim como, provoca debates sobre a viabilidade de
abertura das propriedades rurais com a finalidade de oferecer atividades de
turismo com a possibilidade de oferecer atrativos naturais, históricos,
culturais e até gastronômicos.
Apesar de ter
um crescimento concentrado na Europa e nos Estados Unidos, a partir da década
de 1960, o turismo ganha força na discussão sobre desenvolvimento rural em
vários países no início da década de 1990, período em que cresce o fenômeno da
pluriatividade no espaço rural; a concepção de multifuncionalidade do
agricultor e da agricultura; bem como, o interesse dos agentes turísticos e da
população urbana pelo rural e pelas ruralidades.
Sabendo da
relevância do turismo rural como fenômeno de transformação do espaço
geográfico, discutem-se os conceitos de turismo no espaço rural, turismo rural
e agroturismo.
1) ELEMENTOS
HISTÓRICOS DO TURISMO NO ESPAÇO RURAL
O crescimento
global da oferta turística vem intensificando a diversificação das modalidades
turísticas, chamada de segmentação, e, por conseguinte, a busca/criação de
novas destinações e de novos produtos turísticos nas últimas décadas.
Com a saturação
das destinações turísticas “convencionais” (modelo sol e praia), da segmentação
dos setores do mercado com o regime de acumulação flexível do capital, a partir
da década de 1990, o turismo passa a ser, ideologicamente, polarizado entre
turismo convencional/de massa e turismo alternativo/sustentável.
Entre as
“modalidades” turísticas consideradas alternativas, destacam-se o ecoturismo e
o turismo rural, pois ambos pressupõem, teoricamente, que haja uma valorização
dos espaços “naturais” e ruralizados. Essa valorização conduziria a um
aproveitamento dos recursos naturais, dos objetos técnicos já instalados, e do
saber-fazer local. Além disso, o turismo rural tenderia a ser um turismo mais
simples, individualizado, de base local, e, portanto, não levaria a grandes
mudanças na configuração da paisagem rural.
Em virtude do
desenvolvimento econômico pautado na industrialização e das conquistas
trabalhistas nos países europeus - como as férias, redução da jornada de
trabalho e décimo terceiro salário - ambos ocorridos, a partir do fim da
Segunda Guerra Mundial, o turismo rural se expande na Europa, passando a ser
uma atividade economicamente promissora e incentivada em países como França,
Espanha e Itália.
Além dos
incentivos públicos para a expansão do turismo como setor econômico estratégico
e da organização do trade turístico para viabilizar o turismo rural, o
interesse dos citadinos pelo espaço rural, seja para visitas esporádicas ou
para moradia, contribuiu para a afirmação do turismo rural.
O processo de
retorno ao campo é denominado neo-ruralismo, iniciado na década de 1970, na
França e em outros países europeus. Segundo Giuliani (1990), o neo-ruralismo
expressa à ideia de que, uma série de valores típicos do velho mundo rural
passa por um revigoramento e começa a ganhar a adesão de pessoas da cidade.
Presvelou
(2000) lembra que as visitas ao campo já eram comuns, sobretudo, para rever
parentes e amigos e para o descanso. Todavia, a novidade no interesse pelo
rural encontra-se no deslocamento de pessoas na qualidade de turista para o
espaço rural.
Durante a
década de 1980, há um incremento do turismo no espaço rural europeu, que passa
a ser visto como alternativa de renda em função de problemas estruturais nas
propriedades rurais, como os baixos preços dos produtos agrários e a redução do
protecionismo (TULIK, 2003).
Para Baidal
(2000), as possibilidades do turismo rural/natural constituem um aparato para
reativação de áreas industriais com problemas, dinamização de áreas rurais
atrasadas e diversificação da estrutura econômica regional.
A partir da
experiência europeia da década de 1990 em incentivar o turismo como uma
atividade econômica viável para o meio rural, a qual valoriza o ambiente e a
cultura local, o turismo no espaço rural passou a ser considerada uma
alternativa de emprego, renda e de desenvolvimento para o rural em todo o
mundo.
No Brasil, o
interesse pela expansão do turismo rural por parte do Poder Público também vem
crescendo significativamente a partir da década de 1990, assim como a agricultura
familiar que passa a ofertar produtos turísticos no espaço rural.
Além das
dificuldades econômicas dos agricultores e da agricultura em todo o mundo, o
apelo ambiental de usos menos degradadores dos recursos naturais e do
desenvolvimento sustentável, popularizado no início da década de 1990,
contribuíram para a consolidação da ideologia do turismo rural (do ecoturismo e
de outras modalidades) como atividades potencialmente promotoras do
desenvolvimento sustentável. O interesse da sociedade urbana pelo ambiente e
pela cultura rural também se apresenta como um dos grandes argumentos para o
crescimento do turismo rural, e, consequentemente, para a revitalização do
espaço rural. Autor renomado da área do
turismo, também vê o turismo rural como algo específico do modo de vida rural,
classificando-o como o conjunto de atividades que compõem a vida no campo,
envolvendo a experiência do dia a dia nas fazendas, o convívio com camponeses,
a montaria de cavalos, as plantações, as pastagens, o sabor dos alimentos
degustados diretamente da fonte.
Zarga (2001 apud Bricalli, 2005, p. 43) afirma que
o turismo rural é “uma atividade que se realiza no mundo rural, composta por
uma oferta integrada de ócio dirigida a pessoas interessadas pelo entorno
autóctone, pelas atividades rurais e que tenham uma inter-relação com a
sociedade local.”
O turismo no
meio rural consiste em atividades de lazer realizadas no meio rural e abrange
várias modalidades definidas com base em seus elementos de oferta: turismo
rural, turismo ecológico ou ecoturismo, turismo de aventura, turismo cultural,
turismo de negócios, turismo jovem, turismo social, turismo de saúde e turismo
esportivo.
Quando se fala
em turismo no meio rural, estão incluídas, portanto, todas as modalidades
turísticas praticadas nesse espaço, independentemente da motivação e das
atividades envolvidas. Assim como, o termo turismo no meio rural, outros
autores preferem utilizar o termo turismo no espaço rural ou turismo em áreas
rurais. Torna-se interessante nesse debate quando se fala em turismo no espaço
rural, o componente espacial é preponderante em relação às atividades
desenvolvidas, de modo que qualquer atividade turística desenvolvida em um
espaço que não seja urbano faz parte do turismo no espaço rural, mas não necessariamente
corresponda a uma atividade de turismo rural.
Beni (2002, p.
31) conceitua o turismo rural como o “deslocamento de pessoas para espaços
rurais, em roteiros programados ou espontâneos, com ou sem pernoite, para
fruição dos cenários e instalações rurícolas”. O pesquisador brasileiro aplica
o mesmo conceito de turismo ao rural, porém destaca a paisagem e os
equipamentos rurais como principais motivadores das viagens.
Rubelo;
Luchiari (2005 p. 214), também apresentam um conceito de turismo rural próprio
e bastante abrangente, entendendo-o como: [...] a somatória de possibilidades
que permite ao turista conhecer as práticas sociais das famílias rurais, a
cultura rural, o contato com as atividades do campo, com a natureza, com a
herança material, expressa ainda nos objetos utilizados para desenvolver as
atividades de produção agrícola, e o saber local.
Novaes (2004) apresenta
a definição de turismo rural da Organização Mundial do Turismo (OMT), que
também destaca o turismo como atividade complementar e integrada à
agropecuária.
O Turismo Rural
refere-se a lugares em funcionamento (fazendas ou plantações) que complementam
seus rendimentos com algumas atividades turísticas, oferecendo geralmente
alojamento, refeições e oportunidades de adquirir conhecimentos sobre as
atividades agrícolas.
Desta forma, ao
considerar as referências dos autores citados, o turismo rural está,
necessariamente, vinculado às características do meio rural (produção agrícola
e/ou pecuária, paisagens rurais com vegetação nativa e secundária, arquitetura
rural, o contato direto com o modo de vida dos habitantes do campo e com os
animais, a culinária da “roça”, entre outras).
Devido ao amplo
debate sobre a conceituação do turismo rural, a EMBRATUR (Empresa Brasileira de
Turismo) também teve dificuldades em estabelecer um marco conceitual oficial
para o turismo rural brasileiro. Tulik (2003) afirma que, em 1994, a EMBRATUR
adotou o turismo rural como um conceito múltiplo e, de certa forma, confuso,
pois abrangeria o turismo diferente, de interior, doméstico, integrado,
endógeno, alternativo, agroturismo e turismo verde. O principal objetivo do
turismo rural no Brasil seria gerar emprego e renda com vistas ao
desenvolvimento local.
Entretanto,
Tulik (2003, p. 74) afirma que, em 2002, houve uma mudança no conceito de
turismo rural da EMBRATUR, que passou a ser considerado “um segmento do turismo
que proporciona conhecer, vivenciar e usufruir as práticas sociais, econômicas
e culturais próprias do meio rural de cada região de forma sustentável”. Mesmo
com a mudança conceitual, o turismo rural manteve-se vinculado às práticas
rurais, e não somente ao espaço rural, mostrando que a existência ou manutenção
das atividades agropecuárias são elementos essenciais para caracterizar o
turismo rural. No entanto, este conceito passa a fazer referência à
sustentabilidade no turismo, demonstrando a força da ideologia do turismo
sustentável. Em 2004, o conceito de Turismo no Espaço Rural também passa a ser
adotado pelo governo federal. Em documento do Programa Nacional de Turismo
Rural na Agricultura Familiar, o turismo no espaço rural abrangeria todos “os
equipamentos localizados na área rural que desenvolvem atividades de lazer,
recreação, esportivas, de eventos, não apresentando, basicamente, vínculo com a
produção agropecuária e a cultura rural”. (BRASIL, 2004, p. 7).
De forma geral,
o agroturismo apresenta todos os atributos do turismo rural, sobretudo, pelo fato
de ser uma atividade realizada no espaço rural, ocorre, porém, que o
diferencial do agroturismo em relação ao turismo rural diz respeito à
participação direta e/ou indireta do turista em atividades comuns dos
agricultores, como plantio, colheita, ordenha, entre outras. Nesse sentido,
toda a oferta de agroturismo poderia ser classificada como turismo rural, porém,
nem toda a oferta de turismo rural pressupõe a existência do agroturismo.
Beni (2002, p.
32) apresenta o conceito de agroturismo: “[...] deslocamento de pessoas para
espaços rurais, em roteiros programados ou espontâneos, com ou sem pernoite,
para fruição dos cenários e observação, vivência e participação em atividades agropastoris.”
Comparando os conceitos atribuídos por Beni de turismo rural e de agroturismo,
a única inserção feita para o agroturismo diz respeito à vivência e
participação dos turistas em atividades agropastoris. Afirma ainda que dois
aspectos distinguem o agroturismo do turismo rural, são eles:
1. A produção
agropastoril é a maior fonte de renda da propriedade de agroturismo, de modo
que o turismo gera uma receita complementar;
2. As próprias
atividades agropastoris constituem o principal diferencial turístico, de modo
que o turista pode participar ou não da rotina da propriedade.
No que tange à
ideia do turismo como fonte de renda complementar às atividades agrícolas, os
conceitos de turismo rural da OMT e da EMBRATUR também apontam para esse
princípio. Apesar de ambas as instituições não apresentarem um conceito
específico de agroturismo – dando a impressão de entenderem este como sinônimo
de turismo rural – elas consideram que a complementaridade com as atividades
agropecuárias deva fazer parte do turismo rural.
Mesmo em
empreendimentos turísticos rurais altamente técnicos, como um haras, uma
fazenda experimental ou um pesque-pague, algum tipo de atividade agropecuária é
mantido. Assim, afirma-se que a complementaridade com atividades agropecuárias
deve fazer parte de qualquer oferta de turismo rural, mas tais atividades podem
ser ou não os principais atrativos do turismo rural.
Logo, no
agroturismo, as atividades agropecuárias, além de antecederem o turismo, são os
grandes atrativos turísticos. Para Bricalli (2005), o agroturismo está
intimamente relacionado às atividades agropecuárias da propriedade, e aquelas
que ofertam essa modalidade costumam ser pequenas (até 50 ha) e de estrutura
familiar. Não obstante, concordamos com Beni (2002), que no agroturismo deva
haver complementaridade com as atividades agropecuárias, pois, além de estas se
constituírem nos principais atrativos do agroturismo (seja através do contato
com plantações e animais, da oferta de refeições, ou da compra e consumo de
produtos alimentares in natura ou
processados), geralmente, garantem a sobrevivência dos agricultores e de suas
famílias, principalmente, nos períodos de pouca visitação.
Silva;
Vilarino; Dale (2000) utilizam o conceito de agroturismo como sinônimo de
turismo rural, fato que se considera questionável, pois se considera que o
agroturismo tem mais especificidades que o turismo rural. Os autores ponderam
que o agroturismo seria uma estratégia de diversificação produtiva das
propriedades rurais, através de atividades internas à propriedade e ao modo de
vida rural, que geram ocupações complementares às atividades agrícolas. Como
exemplos, citam a fazenda-hotel, o pesque-pague, a fazenda de caça, a pousada,
o restaurante típico, as vendas diretas do produtor, o artesanato, a valorização
da paisagem, e a industrialização caseira.
Novaes (2004)
procura estabelecer um debate em torno da conceituação sobre o turismo rural,
porém não avança muito, pois diferencia turismo no espaço rural de turismo
rural, mas, assim como Silva; Vilarino; Dale (2000) veem o turismo rural e o
agroturismo como sinônimos.
Verbole (2002)
ressalta o envolvimento dos proprietários dos empreendimentos em atividades
agropecuárias, mas não vincula o agroturismo à participação do turista em tais
atividades. Para o autor, os empreendedores do agroturismo devem ser
agricultores. Como Verbole é europeu e chama de turismo rural qualquer
atividade turística realizada no espaço rural, seu conceito de agroturismo
parece ser similar ao conceito de turismo rural utilizado no Brasil e
oficializado pela EMBRATUR, pois o autor destaca a existência de alguma
atividade agropecuária como elemento definidor do agroturismo.
Ao usar o termo
turismo rural como sinônimo de turismo no espaço rural, Baidal (2000) apresenta
uma definição de agroturismo distinta da de Verbole (2002), pois considera a
participação do turista em atividades agropecuárias, e acrescenta a oferta de
pernoite na propriedade rural como uma exigência básica para se afirmar a
existência do agroturismo. No entanto, para Baidal (2000), o agroturismo:
[...] se
fundamenta no desfrute de experiências ligadas a uma exploração agrícola ou
pecuária. É o próprio agricultor quem
aloja o turista (em sua própria residência ou em edificações já existentes
adaptadas para pernoites), e este participa das tarefas agrícolas ou pecuárias,
ativamente ou como expectador.
Na tentativa de
estabelecer um conceito adaptado à realidade brasileira, os autores veem o
agroturismo relacionado à:
Atividades
internas à propriedade, que geram ocupações complementares do cotidiano da
propriedade, em menor ou maior intensidade, sendo parte de um processo de
agregação de serviços aos produtos agrícolas e bens não materiais existentes
nas propriedades rurais (paisagem, ar puro, etc.), a partir do "tempo
livre" das famílias agrícolas, com eventuais contratações de mão de obra
externa. (CAMPANHOLA; SILVA, 2000, p. 148).
No entanto, a
ênfase dada às famílias agrícolas como receptoras do agroturismo abre uma nova
frente de debate, vinculada à viabilidade e às consequências da inserção de
agricultores familiares na oferta do turismo rural e, mais especificamente, do
agroturismo.
Nas definições
de Verbole (2002) e Baidal (2000), existem diferenças significativas nas
conceituações em torno do agroturismo na Europa.
Tulik (2003)
apresenta os princípios que devem nortear o agroturismo:
- Atividade
agrícola e/ou pecuária na propriedade;
- Turismo como
atividade complementar da renda e das outras atividades agrícolas;
- Organização e
gestão familiar, sendo obrigatória a presença do proprietário;
- Alojamento em
propriedade rural integrado à moradia do proprietário, ou em apartamentos
individuais remodelados ou construídos para este fim;
- Alimentação
baseada na cozinha tradicional do lugar e elaborada com produtos locais;
- Eventual
oferecimento de atividades alternativas de lazer e recreação no entorno da
propriedade;
- Participação
do turista nas atividades rotineiras (cultivo e colheita, cuidados com o gado,
preparação de alimentos tradicionais) ou, pelo menos, possibilidade de
observação;
- Contato
direto com o meio rural e a população residente;
-Caracterizado
como um modelo difuso, em pequena escala, não congestionado, com aproveitamento
máximo dos recursos existentes.
Pondera-se que
essa sistematização dos princípios do agroturismo feita por Tulik (2003) é
extremamente pertinente para se pensar a definição de agroturismo no Brasil.
Apesar de discordarmos com a simples importação de conceitos elaborados em
realidades diferentes da brasileira, os princípios apresentados mostram algumas
peculiaridades do agroturismo, sobretudo, no que tange à participação do turista
nas atividades da propriedade, o aproveitamento da culinária local, e o contato
entre turistas e autóctones.
Bricalli (2005)
procura expor o turismo rural, e sugere três novas categorias dentro do turismo
rural: o turismo rural familiar, turismo rural empresarial e turismo rural
misto. Na categoria familiar ideal,
[...] a
residência do empreendedor é no próprio empreendimento, a mão de obra utilizada
nas tarefas é familiar, o estilo das edificações apresenta características
rurais, os atrativos turísticos são locais e as atividades agrícolas se fazem
presentes.
Já na categoria
empresarial ideal,
[...] a
residência do empreendedor é fora do empreendimento, a mão de obra utilizada
nas tarefas é contratada, o estilo das edificações apresenta características
urbanas, os atrativos turísticos são artificiais e as atividades agrícolas não
existem.
As situações
descritas por Bricalli (2005) como ideais estão situadas em extremos, podendo,
na prática, ocorrer situações intermediárias. Para os empreendimentos que
apresentaram características dos dois modelos, o autor usou, em seu estudo
empírico, a categoria turismo rural misto.
Em nossa
opinião, o conceito de agroturismo permite incorporar grande parte dos
agricultores familiares envolvidos com o turismo, pois, além da existência de
atividades agropecuárias, os agricultores familiares costumam ter seus
principais atrativos vinculados a tais atividades, seja por meio da observação
e da participação em atividades agrícolas e pecuárias, da comercialização de
produtos in natura e transformados,
do uso de animais para atividades de lazer (pesca, passeios a cavalo, charrete,
carro de boi), e do modo de vida rural tradicional, onde se planta e se vive da
“terra”. Registre-se, no entanto, que
também existem agricultores familiares que abrem suas propriedades por
possuírem algum atrativo natural (cachoeiras, rios, escarpas, cavernas, matas),
e que não aproveitam a demanda existente para valorizar suas atividades
agropecuárias cotidianas. Estes agricultores não estariam ofertando
agroturismo, mas o ecoturismo ou o turismo eco rural, ambos inseridos no
turismo no espaço rural.
Tessari (2001)
elenca os seguintes objetivos do agroturismo: - promover a melhoria da vida da
população rural, complementando a renda; - reduzir o fluxo e os efeitos do
êxodo rural; - valorizar o potencial agrícola e turístico do campo; - reforçar
a filosofia de um turismo que promova a conservação ambiental e a cultura
regional.
Os objetivos
apontados por Tessari (2001) demonstram que o agroturismo deve ter como maior
beneficiária a população rural, sobretudo, os agricultores. Não obstante, os
projetos e políticas públicas de agroturismo devem ter como foco a melhoria da
qualidade de vida do homem do campo, e não o atendimento aos anseios e ao
imaginário dos turistas, fortemente influenciados pelo trade e pela mídia.
Moraes; Leite;
Souza (2006) indicam as seguintes características utilizadas para definir o
empreendimento agroturístico:
- O agricultor
deve desenvolver atividades agropecuárias e residir na propriedade;
- A mão de obra
familiar ocupada na atividade do turismo deve representar no mínimo 50% da mão de
obra total no período de maior demanda turística;
- A renda das
atividades agropecuárias deve ser igual ou maior a 20% da renda líquida anual
da unidade familiar.
No entanto, as
características usadas por Moraes; Leite; Souza (2006) não faz nenhuma
referência à necessidade de participação direta ou indireta do turista em
atividades agropecuárias tradicionais, fato que se considera fundamental para
caracterizar o agroturismo. Assim, as características que os autores acima
utilizam para definir um empreendimento agroturístico, correspondem em nossa
opinião, a importantes características para definir os empreendimentos de
turismo rural de propriedade e/ou gestão por parte de agricultores familiares,
mas não se constituem em características definidoras do agroturismo.
Referente aos
conceitos de turismo rural é pertinente
ressaltar o uso indevido dos termos turismo rural e agroturismo em
empreendimentos que não oferecem pernoite. Geralmente, há uma preferência de
agências, empreendedores, comerciantes e políticos em enfatizar a
comercialização de uma oferta de turismo rural e agroturismo, pois isso atrai
mais os turistas em potencial. Todavia, a maior parte dos empreendimentos que
dizem oferecer o turismo rural e o agroturismo, ao não ofertarem o pernoite,
estariam oferecendo apenas o lazer ou o excursionismo, e não propriamente o
turismo.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
O debate
conceitual se faz pertinente para qualquer área do conhecimento, pois através
dos conceitos, dialoga-se com a realidade e teoriza os elementos empíricos que são
pesquisados. Ao perceber um uso indiscriminado dos conceitos relacionados ao
turismo rural, com destaque para o próprio conceito de turismo rural, onde
quase toda a oferta de lazer e turismo presente no complexo, heterogêneo e
híbrido “espaço rural” é comumente autodenominada como turismo rural,
procura-se discutir e apresentar elementos do debate em torno do conceito de
turismo rural.
Ao estabelecer
a diferenciação entre turismo no espaço rural; turismo rural e agroturismo
buscamos posicionar-nos frente a esse debate, sem, no entanto, ignorar outros
conceitos correlatos já utilizados por instituições públicas, privadas e no
meio acadêmico, como o de turismo rural na agricultura familiar, turismo
comunitário, turismo de base local, entre outros.
Acredita-se que
a reflexão acerca dos conceitos de turismo, em geral, e sua correta aplicação
entre o trade turístico, na mídia e também na sociedade em geral, tendem a
qualificar a oferta e a demanda turística no espaço rural, e a proporcionar
condições para o necessário aperfeiçoamento dos conceitos e da aplicação destes
nas realidades empíricas estudadas em todo Brasil, pois a abstração teórica e
conceitual é fundamental para apreender o real.
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